terça-feira, julho 27, 2004

Oh Happy Day

Há dias em que, finalmente, a luz ao fundo do túnel não teima em ser um comboio em sentido contrário.

Hoje tenho o privilégio de estar a viver um desses dias. Como devem calcular, sinto-me esquizofrenicamente feliz.

Chutei a bola para canto com um magnífico pontapé de bicicleta, ao jeito de um qualquer sucessor do mítico Negrete.

Boa!

segunda-feira, julho 19, 2004

Três pequenas e cretinas histórias infantis

História 1
José estava a jogar ao berlinde com os amigos quando sentiu comichão no cotovelo. A princípio tentou ignorar o prurido que lhe afectava o ângulo saliente da articulação do braço direito com o respectivo antebraço. Mas não conseguiu. Para além disso, a aflição levou-o a desconcentrar-se e a falhar o berlinde que alvejara. Irritou-se. Afastou-se um pouco do círculo de amigos, coçou-se e voltou ao jogo. Não falhou mais nenhuma jogada. Fim

História 2
O Marco gostava da Luísa. A Luísa não gostava do Marco. Gostava era do Júlio. Durante a aula de Francês, o Marco mandou um bilhete à Luísa. «Amo-te», dizia o bilhete. A Luísa respondeu. Também com um bilhete. «És feio e não gosto de ti. Gosto é do Júlio», dizia o bilhete. O Marco sentiu-se humilhado e choramingou. À saída da aula, para vingar-se, apalpou o rabo à Luísa. A Luísa gritou. Deu-lhe um tabefe. O Júlio, que de longe assistira a tudo, aproximou-se deles e também deu um tabefe ao Marco. Perante tamanha agitação, a professora abeirou-se dos meninos e perguntou: «Mas o que se passa aqui?». «Estamos a brincar aos tabefes», respondeu o Marco, esbofeteando a professora. Foi expulso da escola. Fom.

História 3
O pai do Teodósio era advogado e queria que o filho lhe seguisse as pisadas. O filho fazia-lhe o favor e seguia-lhe as pisadas. Com tamanho afinco que, por vezes, até tropeçava nos pés do pai. Mas ser advogado, isso é que não. O que o Teodósio queria era ganhar a vida a tocar rabecão. «Rabecão?! Mas que raio é isso?», perguntou-lhe o pai. «É um instrumento musical análogo a uma grande rabeca, de sons graves», explicou-lhe o Teodósio enquanto escondia uma fatia de pudim no bolso de trás dos calções. «Duvido que consigas ganhar a vida assim, filhote. Mas tu é que sabes...», respondeu o pai. «Sei?!», perguntou Teodósio, surpreendido. «Então assim não tem piada...». Abandonou a ideia e tornou-se homossexual.
Fum

quarta-feira, julho 14, 2004

Reflexões cinéfilas (não é um conto estúpido...)

O repto lançado pelo «cookiegui» no seu blog Talk to the hand acabou por proporcionar-me um curto e engraçado momento de reflexão cinéfila. Será possível estabelecer um «top» dos nossos filmes preferidos? Demorei cerca de 15 minutos a fazer o exercício e decidi colocar o resultado final à vossa disposição.

A ideia passava por escolher os 20 melhores filmes da minha vida. Obviamente que a escolha final não tem por base de selecção apenas critérios de qualidade cinematográfica, mas também (ou sobretudo) o facto de me terem marcado por este ou aquele motivo.

Sublinho o facto de ser possível estar a cometer alguma falha imperdoável, por poder estar a omitir algum filme do qual possa eventualmente recordar-me mais tarde. Se me aperceber disso entretanto, voltarei para alterar a lista.

Cá vai:

1.º Pulp Fiction
2.º A vida de Brian
3.º Magnolia
4.º Lost in translation
5.º A última hora
6.º O ódio
7.º Cães Danados
8.º Annie Hall
9.º Fargo
10.º The Royal Tenenbaums
11.º Os suspeitos do costume
12.º As virgens suicidas
13.º Homens Simples
14.º Taxi Driver
15.º Fala com ela
16.º LA Confidential
17.º Almost Famous
18.º Manhattan
19.º Uma história simples
20.º Bananas

Outros «topáveis»: Buffalo 69, Fight Club, Festim Nu, Boogie Nights, Traffic, Platoon, O Apóstolo, Amélie Poulain, Delicatessen, Heat, Trainspotting, O Verão de Kikujiro, E.T. (desculpem, mas não posso evitar ponderar a sua entrada no top), Bowling for Columbine, Beleza Americana, e muitos outros que agora não me ocorrem.

segunda-feira, julho 05, 2004

A oração

Entrou na igreja e tardou alguns segundos a adaptar o olhar àquela realidade sombria, entrecortada por tímidos raios de luz filtrados pelos escassos vitrais que serviam de porta de entrada à luz do Sol.

Flectiu ligeiramente os joelhos, em sinal de reverência para com o Cristo que, altivo, pregado na cruz, de braços abertos, recebia os fiéis naquele templo de oração, aparentemente disposto a acolher as preces que Lhe eram dirigidas.

Vagueou por breves instantes pela nave principal da igreja, contemplando de forma pouco minuciosa os detalhes e decoração do edifício. Procurou um lugar perto do altar, como que levado a acreditar que quanto mais perto estivesse da imagem do Cristo sacrificado, menos ruído teria a sua mensagem em forma de prece.

Ajoelhou-se na segunda fileira de bancos, com as mãos unidas, encostando ao de leve a testa aos nós dos dedos que se cruzavam. Era a primeira vez. Que rezava. Que falava com o Criador. Consciente da sua insignificante posição de pecador. Mas esperançado de que não fosse tarde de mais para poder fazer ouvir o seu humilde apelo à misericórdia de Nosso Senhor e de que lhe fosse possível concretizar, com aquela atitude de verdadeiro filho de Deus, o desígnio que o levara a optar por entrar na igreja.

Rezou. Rezou durante alguns minutos. O silêncio que conservou durante esse espaço de tempo, de concentração total e verdadeira devoção religiosa, ecoava pela igreja. Na sua mente rodopiava de forma incessante, ao jeito de rodapé de Telejornal, a máxima que lera na Bíblia e que o convencera a tomar aquela atitude: «Pedi e vos será dado... Pois todo o que pede recebe».

Terminada a oração, saiu da igreja reconfortado e com novo fôlego de confiança. Encarou o Sol de frente, inspirou fundo e acreditou que era possível. Sacou do telemóvel e mandou um sms. «Laura: queres tomar café esta noite?». Não lhe podia dizer que não. «É hoje que eu te espeto uma queca!», pensou.