quarta-feira, novembro 05, 2003

O Tubo

Era um tubo lindo.
Para o comum dos mortais, poderia ser um tubo como qualquer outro. Mas não. Puro engano. Este tubo era perfeito!

Forte e vigoroso, a sua estrutura de aço conferia-lhe um ar inquebrável, imponente, autoritário. Como se o seu destino fosse uma marcha triunfante, rumo a uma vitória certa numa batalha sem fim. Nada o detinha. O mundo estava a seus pés.

O ar confiante deste tubo era contrabalançado, no entanto, pela beleza do seu brilho. Quando exposto ao sol irradiava alegria. Uma alegria tímida, própria de quem sabe que os estados eufóricos são passageiros. Digna de alguém que sabe ao que veio. Deixando transparecer que, no meio de tanta força, existia uma alma sensata, justa, quem sabe, até, misericordiosa.

Como era esplêndido aquele tubo…

Foi ele que me acertou na cabeça, caído de uma altura de 15 andares, num prédio em construção, algures na Madragoa.
Morri.