segunda-feira, julho 05, 2004

A oração

Entrou na igreja e tardou alguns segundos a adaptar o olhar àquela realidade sombria, entrecortada por tímidos raios de luz filtrados pelos escassos vitrais que serviam de porta de entrada à luz do Sol.

Flectiu ligeiramente os joelhos, em sinal de reverência para com o Cristo que, altivo, pregado na cruz, de braços abertos, recebia os fiéis naquele templo de oração, aparentemente disposto a acolher as preces que Lhe eram dirigidas.

Vagueou por breves instantes pela nave principal da igreja, contemplando de forma pouco minuciosa os detalhes e decoração do edifício. Procurou um lugar perto do altar, como que levado a acreditar que quanto mais perto estivesse da imagem do Cristo sacrificado, menos ruído teria a sua mensagem em forma de prece.

Ajoelhou-se na segunda fileira de bancos, com as mãos unidas, encostando ao de leve a testa aos nós dos dedos que se cruzavam. Era a primeira vez. Que rezava. Que falava com o Criador. Consciente da sua insignificante posição de pecador. Mas esperançado de que não fosse tarde de mais para poder fazer ouvir o seu humilde apelo à misericórdia de Nosso Senhor e de que lhe fosse possível concretizar, com aquela atitude de verdadeiro filho de Deus, o desígnio que o levara a optar por entrar na igreja.

Rezou. Rezou durante alguns minutos. O silêncio que conservou durante esse espaço de tempo, de concentração total e verdadeira devoção religiosa, ecoava pela igreja. Na sua mente rodopiava de forma incessante, ao jeito de rodapé de Telejornal, a máxima que lera na Bíblia e que o convencera a tomar aquela atitude: «Pedi e vos será dado... Pois todo o que pede recebe».

Terminada a oração, saiu da igreja reconfortado e com novo fôlego de confiança. Encarou o Sol de frente, inspirou fundo e acreditou que era possível. Sacou do telemóvel e mandou um sms. «Laura: queres tomar café esta noite?». Não lhe podia dizer que não. «É hoje que eu te espeto uma queca!», pensou.