quinta-feira, março 04, 2004

Um passeio na feira

Depois de muito teimar, acabou por aceder a ir à feira com os pais. «Só vou se me comprarem pipocas!», reclamou ele durante os dias que antecederam aquele sábado. A promessa acabou por sortir efeito. Comeria pipocas, pois então, se essa fosse a condição para levá-lo à feira.

Foi. Mas detestava aqueles espaços. Tinha pavor, mesmo, da maioria dos carrosseis em que os pais teimavam enfiá-lo. «Diverte-te, querido!», pedia-lhe a mãe com um tom de voz carinhoso, num pedido que se transformava frequentemente, como que por artes mágicas, e perante a sua constante renitência, numa obrigação.

«Diverte-te... bah!», bufava ele de cada vez que tinha de se enfiar em aviões ridículos, montar-se em zebras, equilibrar-se dentro de dragões ou subir e descer em helicópteros cor-de-rosa. «Ganda merda!», pensava para com os seus botões enquanto contemplava os pais, que lhe sorriam e acenavam de cada vez que passava junto deles nas voltas e reviravoltas do carrossel.

Já estava naquele corre-corre, de carrossel para carrossel, há mais de duas horas. «Queres andar nos carrinhos de choque?», perguntou o pai. «Tenho escolha?», pensou ele, encolhendo os ombros e respondendo afirmativamente com a cabeça. E lá foram. Enfiaram-se os dois num carrinho acanhado. À falta de espaço onde coubessem os dois, ficou quase ao colo do pai. Levavam três fichas. O equivalente a três voltas. Mal o pai pôs em acção a segunda ficha, equivalente à segunda volta, ele, enjoado, vomitou-se todo.

O pai, aborrecido, aproximou-se da borda da pista de carrinhos de choque e saiu do veículo visivelmente chateado. A mãe, solicita, abeirou-se deles, desmultiplicando-se em perguntas e tentando limpar aquele líquido viscoso das roupas de pai e filho.

«Toma!... Tinha ido comprar-te as pipocas entretanto, querido», disse ela, entregando o pacote de pipocas à criança. «Bem podes enfiá-las no cu!», respondeu ele, agoniado, e claramente farto de estar ali. Levou dois tabefes e ficou de castigo durante duas semanas.