quarta-feira, agosto 11, 2004

A calvície segundo o ouriço Jasmim

O meu ouriço hoje acordou doente. Problemas de pele, desconfio, pois da noite para o dia, o pobre bicho perdeu a quase totalidade dos picos que lhe preenchiam o pequeno e abalofado corpinho. Só restou um. No cimo da cabeça. Tipo antena.

Aparentemente a situação não o incomodou. Quando cheguei à sala, lá estava ele, tranquilo da vida, a beber o seu café e a ler o suplemento de Trigonometria do «Boletim Zoófilo». «Acordaste em boa hora», disparou ele, satisfeito por me ver fora da cama. «Então?», perguntei. «Não consigo encontrar o eixo dos cossenos da função trigonométrica que vem na página de quebra-cabeças de hoje. Podes ajudar-me?», pediu-me.

Renitente em fazer uma triste figura de mim próprio, olhei de soslaio para o jornal e mudei de assunto. «Que te aconteceu aos picos?», perguntei-lhe. «Oh! Nada de especial. É da idade. Isto é mesmo assim... Mas não te preocupes que se pentear para trás este pico que sobrou na cabeça, sempre disfarça um pouco a careca», garantiu-me o ouriço com o ar mais convicto do mundo. «E a função trigonométrica? Ajudas-me?», insistiu.

Virei costas e voltei para a cama. Não me apeteceu continuar a dialogar com ouriços.