Uma homenagem
Se porventura acharam estranho o silêncio a que o Esquizofrenias se remeteu nos últimos dias, tal situação deve-se ao facto de a nossa redacção ainda se encontrar combalida – e com evidentes dificuldades de recuperação – com a triste notícias recebida na semana passada: a morte de um dos grandes senhores do cinema luso. A ocasião é de luto e de pesar, mas parece-nos justo fazer uma curta pausa no choro compulsivo que nos assola freneticamente, para aqui deixar registada a devida homenagem.
Cineasta de referência nos circuitos cinéfilos mais obscuros, Indelbërg Silva ficou, por um desses infelizes acasos do destino, remetido a uma adoração quase unicamente platónica por parte dos seus indefectíveis fãs.
Apesar de ter passado como um cometa pelo panorama luso da 7.ª arte, é impossível esconder por muito mais tempo o quão precioso foi o seu contributo para o desenvolvimento cinematográfico do nosso país. É por de mais evidente que o seu aparente insucesso comercial – oh!, como estes parâmetros de avaliação o tiravam do sério – se deveu em grande parte a ter recusado liminarmente a eventualidade de ver um filme seu exibido em qualquer sala «mainstream».
Indelbërg Silva – carinhosamente tratado por Horácio Lopes pelos amigos – era um «puro sangue» das artes. Destilava inspiração por todos os poros, tendo abraçado, em períodos espaçados da sua curta vida, projectos em áreas tão distintas como a pintura, a literatura, o dominó ou a música. Mas foi no cinema que a sua genial e prolífica veia artística – que lhe atravessava a testa, conferindo-lhe um ligeiro aspecto frankensteiniano – mais sobressaiu.
Reflexo da sua personalidade instável, a obra de Indelbërg foi pautada pela intensidade e amplitude desmedida dos temas abordados e pela crueza como os mesmos eram expostos na grande tela, fruto da panóplia de planos ousados com que filmava as suas histórias que, após a montagem feita com o seu cunho tão pessoal, redundavam em verdadeiras saladas de fruta visuais, funcionando como um potente soco no estômago do público.
Sendo certo que «Um choco, porquê um choco?» foi o filme que marcou de forma mais profunda toda a sua obra – ainda considerada nos circuitos cinéfilos alternativos como a mais sublime interpretação jamais protagonizada por um molusco cefalópode comestível – , seria quase criminoso olvidar algumas das preciosidades realizadas por Indelbërg ao longo da sua carreira, insistentemente consideradas «menores» por alguns arautos da crítica cinematográfica lusa.
Quem, no seu perfeito juízo, pode negar o impulso que constituiu para a indústria cinéfila deste cantinho da Europa o documentário autobiográfico «Raiva e tremoços»? Que dizer do drama intemporal «Saudades do pónei», em que Indelbërg se desdobra em personagens (33 no total), figurantes, cenários e iluminação, num «one man show» a todos os títulos notável e que teve como ponto fulcral a sua genial interpretação na pele de Pónei Meireles.
Muito, mas muito mesmo, há a dizer sobre Indelbërg Silva. Mas mais do que as palavras, a obra deste (já saudoso) mestre fala por si. Deixamos, por isso, aqui a lista completa de obras deste autor. A nossa tarefa está cumprida com esta homenagem. Cumpram, agora, a vossa parte, não perdendo a oportunidade de (re)ver os seus filmes.
Longas Metragens:
«Alice, não fujas» (1981)
«Raiva e tremoços» (1983)
«Três dedos e nenhum é meu» (1987)
«Um choco, porquê um choco?» (1990)
«Alice, não fujas – António’s cut» (1992)
«Saudades do Pónei» (1996)
Curtas Metragens:
«Onde está o REC?» (1977)
«Onde estou e porquê?» (1978)
«Estou quase a...» (1985)
«Ai, ai, ui, ui, o comboio» (1991)
Documentários:
«Zlipsgith – o mito» (1994)
«Não tenho onde sentar-me» (1997)
«O soez Baltasar» (2001)
Cineasta de referência nos circuitos cinéfilos mais obscuros, Indelbërg Silva ficou, por um desses infelizes acasos do destino, remetido a uma adoração quase unicamente platónica por parte dos seus indefectíveis fãs.
Apesar de ter passado como um cometa pelo panorama luso da 7.ª arte, é impossível esconder por muito mais tempo o quão precioso foi o seu contributo para o desenvolvimento cinematográfico do nosso país. É por de mais evidente que o seu aparente insucesso comercial – oh!, como estes parâmetros de avaliação o tiravam do sério – se deveu em grande parte a ter recusado liminarmente a eventualidade de ver um filme seu exibido em qualquer sala «mainstream».
Indelbërg Silva – carinhosamente tratado por Horácio Lopes pelos amigos – era um «puro sangue» das artes. Destilava inspiração por todos os poros, tendo abraçado, em períodos espaçados da sua curta vida, projectos em áreas tão distintas como a pintura, a literatura, o dominó ou a música. Mas foi no cinema que a sua genial e prolífica veia artística – que lhe atravessava a testa, conferindo-lhe um ligeiro aspecto frankensteiniano – mais sobressaiu.
Reflexo da sua personalidade instável, a obra de Indelbërg foi pautada pela intensidade e amplitude desmedida dos temas abordados e pela crueza como os mesmos eram expostos na grande tela, fruto da panóplia de planos ousados com que filmava as suas histórias que, após a montagem feita com o seu cunho tão pessoal, redundavam em verdadeiras saladas de fruta visuais, funcionando como um potente soco no estômago do público.
Sendo certo que «Um choco, porquê um choco?» foi o filme que marcou de forma mais profunda toda a sua obra – ainda considerada nos circuitos cinéfilos alternativos como a mais sublime interpretação jamais protagonizada por um molusco cefalópode comestível – , seria quase criminoso olvidar algumas das preciosidades realizadas por Indelbërg ao longo da sua carreira, insistentemente consideradas «menores» por alguns arautos da crítica cinematográfica lusa.
Quem, no seu perfeito juízo, pode negar o impulso que constituiu para a indústria cinéfila deste cantinho da Europa o documentário autobiográfico «Raiva e tremoços»? Que dizer do drama intemporal «Saudades do pónei», em que Indelbërg se desdobra em personagens (33 no total), figurantes, cenários e iluminação, num «one man show» a todos os títulos notável e que teve como ponto fulcral a sua genial interpretação na pele de Pónei Meireles.
Muito, mas muito mesmo, há a dizer sobre Indelbërg Silva. Mas mais do que as palavras, a obra deste (já saudoso) mestre fala por si. Deixamos, por isso, aqui a lista completa de obras deste autor. A nossa tarefa está cumprida com esta homenagem. Cumpram, agora, a vossa parte, não perdendo a oportunidade de (re)ver os seus filmes.
Longas Metragens:
«Alice, não fujas» (1981)
«Raiva e tremoços» (1983)
«Três dedos e nenhum é meu» (1987)
«Um choco, porquê um choco?» (1990)
«Alice, não fujas – António’s cut» (1992)
«Saudades do Pónei» (1996)
Curtas Metragens:
«Onde está o REC?» (1977)
«Onde estou e porquê?» (1978)
«Estou quase a...» (1985)
«Ai, ai, ui, ui, o comboio» (1991)
Documentários:
«Zlipsgith – o mito» (1994)
«Não tenho onde sentar-me» (1997)
«O soez Baltasar» (2001)
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